sábado, 1 de junho de 2013

IRONMAN FLORIPA 2013 - #1247

DEPOIMENTO IRONMAN 2013
RODOLFO DORNELAS


Meu Iron começou um ano atrás no período da inscrição, estava em recuperação do meu tombo de bike que quebrei a clavícula. Na quinta de manhã avisei ao Paulinho que não ia fazer, mas sexta feira estava a postos para fazer a inscrição, mesmo sem treinar ainda.


Tomei esporro né, bem merecido por sinal. Logo em seguida outro puxão de orelha, me inscrevi no Tristar, um triathlon com 1k de natação, 100km de bike e 10km de corrida, a prova mais longa até então.
Segui trabalhando e treinando em Curitiba. Terças e quintas treinos de bike no rolo. Quarta a noite corrida. Natação segunda, quarta e quinta no horário do almoço. Foi minha rotina por um semestre. OS treinos de natação eram insanos na época, 3km, 3.5km e até um de 4km. A bike era uma batalha mental. Nunca tinha treinado no rolo. Alguns treinos foram abortados por falta de paciência, inventava alguma desculpa. Mas os treinos que saiam 100% valiam cada segundo de esforço. Dava pra sentir a evolução treino após treino nesses. Era um esforço muito constante, o rolo tem medidor de potência, então eu, que sou aficionado por gráficos e tabelas, montava várias correlações desses treinos. E eles passaram a duram mais tempo, 1h20’, 1h30’, 1h40’, 2h! Enfim, deu pra perceber a importância que esses treinos tiveram para mim. As corridas de quarta a noite eram tiros de 700m, 1km, 2km, 3km, variava o dia, mas sempre tiros longos. Os treinos totalizavam 14km, 17km. Eu chegava em casa e minha avó paterna ficava preocupada comigo, “você está bem? Tem certeza?”. Cansava muito. Foi um período sem lesões e a única preocupação era fazer força.
E porque esse semestre foi tão importante? Porque apesar de voltar todo final de semana para Floripa, a semana eu passava sozinho. Era treino, trabalho, treino. Muitos dias manter a motivação era difícil, fazia frio, estava sozinho. Mas com certeza cresci muito. Especificamente, minha natação deu um pulo, a bike também. A corrida eu não percebia melhoras, mas estava ganhando muita resistência sem perder velocidade.
O Tristar ocorreu foi perfeito, as três modalidades equilibradas. Quebrei uma barreira física e psicológica  ao percorrer os 100km e depois correr bem os 10km, para 42’.

Teve também a T&F, que fiz meu primeiro único sub-40’ nos 10km.
No fim do ano teve outra prova, um olímpico com vácuo em Tramandaí-RS. Foi comigo a Rebeca, Zack e Jéssica. Altas trip, alta prova, outra bem equilibrada.
Depois desanimei um pouco com os treinos, tinha as férias pela frente, e até lá não treinei direito. Costumo perder a motivação para treinar depois de competição. Depois do Tristar teve isso um pouco também, acabo matando uns treinos
No meio das férias, de 30 dias, corri duas vezes, e depois de 15 dias nisso, fiz minha primeira meia maratona. O plano era fazer tranquilo, mas o sangue esquentou, foi pros zóios! Dai acabei fazendo muita força, fiquei moído. Provavelmente aí desencadeou uma lesãozinha num tendão atrás do joelho, que me acompanhou até o Iron. Diz o Paulinho que foi o Snowboard também.

Enfim, o primeiro semestre desse ano foi bem diferente. Corri muito pouco. Pedais na maioria sem tanta intensidade, focando mais a resistência. A natação continuou pancadaria.
Do meio de fevereiro até meio de abril nenhuma prova, só treinos. Dos treinos da planilha perdi poucos.
Lembro-me de cinco treinos que marcaram esse semestre de preparação.
140km de bike, o treino mais longo, num dia de vento sul infernal. Saí de cada sozinho, fiz 6 voltas no circuito e voltei para casa. Encontrei o André, Marquinho, Nilton e o Cassiano nesse dia, pedalei um pouco com o André, vulgo Bruce sem Coração, mas a maioria foi sozinho.  Fiquei muito mal depois, muito doído, dor de ouvido. Só de pensar em correr depois doía. Nesse dia acho que o treino afetou negativamente o psicológico.
60km de bike antes do Triathlon longo de Jurerê. Saí com o Paulinho e o Zack da sede, e a força que fiz nesse treino foi absurda! Um passava o outro, puxava o ritmo e o coração na boca sempre. No final eu fazia muita força pra não perder os dois de vista. No final fiquei muito orgulhoso.
??de bike e 3,5km de corrida saindo da sede também com os dois maus elementos descritos acima. Foi minha primeira corrida depois de uns dois meses parado. Pensei que seria um ritmo tranquilo, mas foi socando a bota. Lembro muito bem que fiquei uns 20 minutos depois do treino sem falar, tentando assimilar o que tinha acontecido.
8x300m na piscina com intervalo de 25’’ no dia em que voltei do velório da minha avó materna. Nem consigo descrever.
25km de corrida, uma semana depois, lá na cidade dela, São João Batista. Perguntei para meu tio um percurso bom para fazer, comprei uns 4 géis da VO2, levei água só pra meio treino e fui treinar, conhecer mais um pouco da cidade. O percurso costeando o rio era muito massa, estrada de chão. Fui 12,5km e voltei pelo mesmo caminho. Parei para pegar água da torneira de uma casa. No meio comecei a sentir a lesão de novo, e no final estava quase insuportável.
Bom, tiveram duas competições em abril em finais de semanas seguidos, O Longo de Jurerê e o Long Distance de Caiobá.
O Longo de Jurerê foi uma pancadaria a prova inteira, coração na boca e tudo deu certo. A prova foi sensacional, uma galera da Sprint fez e vários conhecidos também.

Depois teve Caiobá, foi um pouco menos que um meio iron, o triathlon mais longo que faria antes do Iron. O plano era fazer uma prova controlada, mas a natação e o ciclismo saíram bem fortes, até afoguei no final da bike. Já a corrida foi diferente. Comecei pensando no final e consegui controlar bem o ritmo. No final senti o tendão, o ritmo abaixou um pouco mas cheguei, e ganhei muita confiança para o Iron.

Depois peguei uma gripe, desanimei de novo dos treinos, mas matei treino do que treinei. Duas semanas assim. Depois faltando três semanas já era hora do polimento. Na última semana queria ficar mais uns dois meses treinando para poder fazer a prova.

Fiquei muito nervoso quinta feira, quando fui a primeira vez para a cidade do Iron. O treino de natação foi tranquilo, mas depois fiquei meio perdido. Até deixei a Rebeca no restaurante por uns 10 mintuos e fui para o carro arrumar a bolsa de treinos, desculpa! Depois disso não fiquei mais nervoso, até a hora da largada.
Dentro do curral, sentei na areia sozinho, e fiquei meditando. Faltando uns 5 minutos levantei, e tirei e coloquei o óculos de natação umas trinta vezes, me certificando que estava bem vedado. Bom a única coisa que eu poderia fazer naquele momento era ficar calmo.

Larguei. Não tinha aquecido, estava muito frio e a natação ia ser muito longa. No começo respirei muito, não fiz força e o negócio era ocupar o meu espaço e mirar na boia. Ninguém entra na minha área! Foi perfeita nesse aspecto, na verdade em todos. Recebi uma pancada um pouco mais forte só no final da prova, e nem deu nada. Errei muito pouco a navegação, fiz uma barriguinha só. A primeira boia demorou muito para chegar, mas depois o nado fluiu muito bem. Sai primeira volta, olhei o relógio, 33`xx``. Não fiquei feliz nem triste, porque se mantivesse esse ritmo faria bem pouco acima do previsto, mas não sabia que a segunda volta era mais curta, e quando sai da água e vi 1h01’xx’’ abri um sorriso que foi comigo até a tenda da transição. E passando por aquele tapete azul lembrei-me do ano passado, que eu estava ali assistindo e admirando como aqueles caras conseguiam nadar tudo aquilo tão rápido. Puma, Daniel e o Paulinho. E esse ano estava eu ali, saindo num tempo inimaginável um ano atrás, vendo uma multidão que me assistia. Surreal!

Fiz a transição com calma, bem demorada por sinal, coloquei 3 garrafinhas atrás do top, uma câmara e uns géis.
No começo do ciclismo fui me escutando e tentando compreender como seria pedalar 180km. Deixei o BPM mais baixo que o recomendado a prova inteira, mas nem liguei pra ele, estava tentando ver como ia me comportar. Na subida do morro do estado encontrei o Yan e o Astério me encontrou. Fui junto com ele um tempão, mas depois tinha muita gente junta, um pelotão, e decidi ir lá pra trás e paras de brigar com aqueles caras. O Astério ia abrindo um pouquinho de mim. O Paulinho em via só nos retornos, bem na frente sempre.

Toda hora via o pessoal pelo percurso. A Beca foi as duas vezes até o túnel. O Osvaldo e a Sabine sempre estavam tirando fotos e berrando em algum lugar. O Zack aparecia do nada também.
No retorno lá em jurerê, nas lajotas, tinha uma galera e tinha uns caras avisando pra tomar cuidado com uma garrafinha no meio da pista. Fiz uma coisa bem irresponsável, varei a garrafa. Podia ter dado muita merda ali, furado pneu, qualquer coisa, mas era o dia, e a torcida vibrou com essa ação impensada. Foi muito irado! Hehe.
A alimentação caiu muito bem, cápsulas, batata, bisnaga, Gatorade, água, R4, EFS, tinha hora que eu nem sabia o que eu queria comer. Lembro na volta da segunda volta que eu queria comer a batata e também o gel, e não conseguia decidir! Quando tomei um 2nd Surge, um gel que tem 100mg de cafeína, fui do viaduto do CIC até o retorno lá no sul a pleno vapor, não tinha percebido o vento. Consegui enfrentar o vento contra que tinha desde lá até sei lá aonde muito bem, sofrendo é claro, mas mantendo um esforço constante, já com mais de 120km de prova.

A minha bike, minha Bambina, trabalhou perfeitamente, me aguentou e não reclamou em nenhum momento. Quando acaba o ciclismo temos que entregar a bike para um staff. Eu não sabia disso, e hesitei. Falei pro cara “que que tu qué?” ele apontou pra bike, eu entendi, entreguei a pretinha pra ele e falei “cuida bem dela”, pensei “ela merece”!
Quando eu coloquei as pernas no chão, senti uma coisa muito ruim, como se elas não fossem feitas pra o impacto de cada passada. Os pés estavam dormentes e com o impacto das pisadas as pernas ficaram também. Fui assim até a sacola, fiz tudo com calma de novo, e demorou bastante de novo. Enchi uma garrafa, tirei a câmara de trás, peguei mais géis, coloquei o tênis, viseira e óculos e fui! Para o banheiro dar uma mijadinha que eu queira fazer desde a primeira hora da bike, e não consegui me concentrar para fazer em cima da bike.

Pronto, só tem mais 42km de corrida pensei. Vamos com calma, igual Caiobá que o fim não vai fugir.  E a corrida foi muito semelhante a de Caiobá. Primeira volta bem controlada, sobrando um pouco. As subidas quando ficavam mais inclinadas fiz caminhando. Quando queria tomar Gatorade nos postos caminhava também, porque eles dão em um copo aberto, e não consigo tomar correndo. Foi uma festa. Abrindo a segunda volta, vi o Vitão e logo me veio na cabeça a famosa frase né. Berrei pra ele “só falta 21 agora Vitão!”.

Estava me sentindo bem e resolvi acelerar um pouco. Estava fazendo força a cada passada, mentalizando que tinha que completar o 42 km. No km 27 tirei a fita do BPM que estava incomodando. No km 30 senti uma fisgada no joelho muito forte, parecia uma facada. Continuei correndo, mas fui mancando uns 300 metros até o posto de hidratação, onde caminhei, tomei o Gatorade e joguei água gelada no joelho, que parou de doer. Começou a doer de novo, só que mais leve um pouquinho depois, joguei água de novo e não senti mais ele, mesmo assim tomei um Advil para me assegurar. No meio disso encontrei o Astério e fomos juntos um tempão. Uma galera de Blumenau torcendo pra ele, muito massa. E um pessoal que chamava ele de Paulinho! Acho que é o tamanho da cabeça!
Pegamos a pulseira laranja juntos e gritamos que nem uns doidos: “Laranjinha! Laranjinha!”.
Bem similar a Caiobá, depois dessa dor não consegui manter o ritmo, que aumentou. Cada passada era um sacrifício, muita força tinha que fazer, vontade de parar, dor em vários lugares. Fiz a besteira de tomar um copo de Pepsi, que me fudeu o estômago. Quando eu contei pra Rebeca ela quase me bateu. Enfim, lutando a cada passada, entrei no pórtico que só quem tem a pulseira laranja entra e ali percebi que já era, tinha completado essa loucura que é essa prova.  Vi a minha mãe, a Rebeca foi correndo comigo, depois meu Pai veio também, mas ele desistiu, e cruzei a linha com a Beca e o Zack. Cruzamos num sprint, e disso eu me arrependo, queria ter passado devagar, aproveitando cada segundo, mas a vontade de cruzar aquele portal era tão grande que corri com toda a força e emoção.

Fechou um ciclo, todo o treinamento e preparação me transformaram. A prova foi um reflexo de todos os treinos e todo o life-style vividos até aqui.

Agora me mudei para Curitiba, aonde vou trabalhar e treinar nos próximos anos, sempre voltando para Floripa quando puder. Já estou com saudades.
Obrigado a todos, cada um que me acompanhou até aqui.

Em especial minha família, pai, mãe e irmão, apoio fundamental.
A nutricionista e namorada que me ajuda em tudo que preciso e é minha inspiração.
Ao treinador Paulinho, que me ensinou que devagar, constante e sempre vamos longe.
Ao pessoal que acredita no esporte:
Bike Tech – Loja de Bike no Itacorubi especializada na sua bicicleta.
Personal Fisio – Tratando os triatletas mais mimados de Floripa.
Gautama Mente e Corpo – Renovando corpo e alma, na base da dedada.
Ronin Temakis e Sushi – O melhor Temaki da Ilha foi meu combustível até aqui.